Peso

Arrasto minha liberdade pelas ruas, quase como uma obrigação. Ela está atada ao meu calcanhar esquerdo, porque era a única forma que encontrei de arrastá-la com uma certa facilidade. Minhas mãos ainda estão esfoladas com seu peso e sua aspereza e não mais conseguem segurá-la por muito tempo. A noite eu deito minha cabeça sobre minha liberdade, tento fazê-la de travesseiro. O cansaço cotidiano é tanto que consigo dormir rápido, mas sempre acordo com dores no pescoço e costas, já que é tão desconfortável quanto dura. Arrasto minha liberdade com tanto orgulho, que nem percebo minhas roupas rotas e minha pele ferida enquanto sorrio para as pessoas, dizendo: "vê? Sou livre!!"

Sou livre para morrer de liberdade, porque dela, de qualquer forma, pouco consigo viver. Ainda assim, a seguro com o cuidado de um Shyloch para com sua bolsa de moedas. Tudo o que tenho é essa liberdade, que é minha e só minha. Liberdade que conquistei como se conquista um troféu valioso, uma medalha brilhante, uma mulher difícil.

Vou com minha liberdade até a praia, pois sou livre para ir até a praia com minha liberdade; e resolvo, livremente, nadar com ela. Ela brilha sob o sol, a ferrugem que a cobre contrasta lindamente com a espuma das ondas. O sangue seco, meu e de outros, que a tingem a tanto tempo solta-se de sua superfície sujando a água salgada. Meus olhos se fixam nela, na minha liberdade, e nenhuma atenção dá a mais niguém. Ela pesa, minha liberdade. Meus olhos fixos nela, vendo-a ir para o fundo por causa de seu peso, arrastando-me com ela, para o fundo. Sempre para o fundo...

2 comentários:

  1. Liberdade

    Quando os sinos dobram
    À porta de minha morada
    Grilhões nos pés
    Arrastando bolas de ferro
    Concisa, ouço os sinos a dobrarem

    Quando os sinos calam
    À porta de minha morada
    Com dentes afiados rôo correntes
    Convidando os pés atrofiados
    A voarem...

    Quando os sinos dobram
    Calo-me
    Quando os sinos silenciam
    Grito de dor
    Somente quando os sinos calam...

    Romy Schinzare

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  2. LIBERTINAGEM

    Me custou caro,
    mas nem um centavo a mais,
    toda aquela correria,
    todo aquele leva e traz.

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