À minha rinite alérgica
Na megalópole fria e cinzenta, meus pulmões tentavam – em vão – respirar para além de sua capacidade normal. Lenços kleenex no bolso, garrafa de água devidamente cheia para os momentos em que nuvem de fuligem chegasse ao nariz, a tosse subisse e ganhasse o ar, perdigotos e catarro. Na sala de espera, devidamente climatizada, ar-condicionada, nadavam os peixes com tranquilidade de quem espera a morte e nada conhecem da vida dos carros e poeira e os semáforos e as faixas de segurança e os tropeços e solavancos de ônibus. Para espanto daqueles que liam Caras no sofá, aguardando a chamada da secretária e o terror de horas sentado na cadeira do dentista, enfiei rosto no aquário. Por um momento dei adeus aos meus pulmões, tive brânquias e escamas e desfrutei do mistério daquilo que está abaixo da linha que separa terra e água.
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