A máscara e eu

E por alguns dias levo minha(s) máscara(s) pra passear! Posso fingir, assim...tranquilamente!
A boca encarnada, os olhos borrados.
- Lágrimas?
- Chuva.
E posso aguachover, misturada com quem ali estiver: cúmplices inebriados do que está aqui dentro, do que está ali dentro.
A máscara e eu!
Nós duas podemos, em meio aos confetes, doer... languidamente!


o "sentido do carnaval" é anterior ao seu, mas poderia ser posterior

eu te levaria pela mão e ia te mostrar que esse negócio que dizem que já morreu (o sentido do carnaval) tá por aí. imagino que se você acreditasse no carnaval seria mais simples olhar pra você sem sorrir, andar de cavalinho, beijar sua nuca, correr dando risada, pular em cima da cama, te mostrar as batidas do meu coração. é difícil convencer alguém oferecendo tão pouco, eu sei. pra você acreditar no carnaval, teria que acreditar que as coisas não têm um sentido único. teria que achar que nada é mais bonito que um espasmo. você teria que querer esquecer que tipo de sujeito acredita que é. você teria que conhecer e amar a inutilidade de uma ação. as inutilidades são fundamentais, ou não são? se você aceitasse o carnaval, a gente poderia fazer o que temos evitado por pura falta de lógica. se você amasse o carnaval como eu, colocaria sua cabeça no meu colo e beijaria minha barriga só pra ouvir o estalo. riríamos juntos de nada especial. não seríamos mais irônicos publicamente e talvez fôssemos mais felizes. se você quisesse, teríamos todas as terças e quartas, quintas, sextas-feiras e dias que quiséssemos pra tentar

Imagina, imagina

Farras e fitas e eu quero morrer assim no seu colo e tantas e tintas e você é tão bonita assim quando gira em tambores e pandeiros e eu sou tão bonito assim quando tudo gira em guizos e gozos e entra na roda morena pra ver repentes serpentinas serpenteia e me beija e me pega em brilhos e bolhas e pulhas mas você tem tudo tem graça “imagina imagina hoje à noite a gente se perder” em saltos sandálias plumas fitas feitos cores claras cintilâncias imagina imagina...


Caravana

E a vida vai puxando o carro,
água eletricidade aminoácidos.

Carnaval!

Auto da barca do inferno,
ou a procissão dos deuses.

De Teogonia ao Candomblé.

UMA FATIA: FILACANTOS

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
   Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão...” (Drummond)


Gosto de deslizar entre as raízes entrelaçadas, enamoradas
............................filacantos..............................
Esgueirar-me por suas entrâncias e reentrâncias dilaceradas
Colher um pouco do néctar intenso ora aqui ora acolá
Para explodir em arbusto híbrido sobre o solo árido

Gosto de sentir o pulsar do corpo no movimento circular,
...........................sinuoso....................................
Do silêncio recôndito, a deglutir vidas em ceifa atemporal
Aconchegar-me a quem ali adormece calmamente, na vigília
Ouvir os sussurros de quem geme na brisa noturna

Gosto de saciar a sede nos pequenos veios venosos,
.............................embriaguez.......................................
Cambalear no tiro disparado sem direção e sem alvo uno
Deixar livros, amigos, riquezas, vergonhas...dançar velado

Deixar que minha face triste, magra e que meus olhos
.................................vazios................................................
Nem dêem por suas mudanças simples, certas e fáceis
Brincar de querer ser aquilo que a gente não é, quem sabe...ir além.