As azaleias eram suas preferidas, tinham algo de melancólico, mas também a delicadeza as rodeava.
- Flores fortes! Dizia. Não se envergonham no frio. Conseguem dar um colorido enquanto as outras dormem.
Essa admiração veio da infância, daquele casebre no meio do nada onde sua avó vivia. Lembrava do cheiro das tardes frias que sentava ao lado da avó para se despedirem do sol, devorando um bom pedaço de queijo curado com gosto de Minas Gerais e um copo de café quentinho, o seu tinha uma gota de leite e o da vó era preto, forte.
- Quando você crescer deverá preferir o seu sem açúcar, aconselhava a avó. Suportar o amargo do café faz suportar o amargo da vida...
Sempre sentavam na mesma pedra, assim a vista era privilegiada. Dalí, podiam ver a última faísca do sol que em outros lugares já estaria declarada a noite. Aos seus pés um campo de azaleias que a avó cultivava.
Depois voltavam para o casebre e brincavam de desenhar com carvão nas paredes. Geralmente estampavam o ocorrido da tarde. O cenário era a paisagem que viam do alto da pedra e cada dia acrescentavam ou um pássaro voando ou uma formiga carregando uma folha ou um inseto que pousava nas azaleias ou qualquer passagem capaz de desviar, por instantes, a atenção do por do sol.
A última notícia que teve do casebre, depois da morte da vó e da mudança de cidade, foi que as paredes (desenhadas) abrigaram, por um tempo, galões de agrotóxicos e logo depois foram derrubadas, já que aquela terra era boa para o plantio da soja. A pedra ainda deve estar lá.
- Acreditando ou não em Deus, dizia a avó, a pedra continua sendo pedra e isso não fará dela menos pedra...
Agora, em seu apartamento, de onde é impossível ver o sol, quanto mais o seu desaparecer, sempre tem às janelas vasinhos com azaleias e gosta de olhar as ruas sempre tendo em mãos uma xícara de café forte, sem açúcar.
OUTONO
ResponderExcluirO velho gosto,
de momento novo.
O verbo solto,
ao sabor do vento.