O verso e a pedra

Doce e singelo é o concreto, que se quebra com o destemido repetir do martelo. As palavras que contam é que são ásperas e resistentes. São elas que custam a medida da impaciência. Afinal, poetas e pedreiros partilham cegos a mesma sublime ignorância. Subestimam, com tácita arrogância, a matéria de sua inconsequência. Pois que seria do pedreiro cândido que morre de medo da dureza que a pedra conserva? Seria tal qual poeta lacônico que evita o excesso e, comedindo palavras no espaço já aberto, conta o que é canto e se inventa no tédio. É por isso que o martelo tem peso e vem de cima pra baixo e de novo e de baixo pra cima. Porque quer mostrar que é nos pedaços da coisa que se constrói rima. A violência, no entanto, não está na arma que quebra, mas na palavra que diz da arma e faz da agressão sua regra. E se o poeta, depois do cansaço do verso, quer tregua, a sua arte sem gosto se vela.

é o pedreiro quem na verdade faz poesia,
pois o poeta apenas martela.

Um comentário:

  1. " - O senhor cultiva epigramas?
    - Não,só a grama do meu jardim."

    Carlos Drummond de Andrade

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