Mergulho mas não me afogo

Há quem veja a vida como um grande mar
Deve ser porque ambos habitantes precisem de oxigênio.
Tem gente que passa pelo mar e só se limita a molhar seus pés
E da mesma forma, nem pegadas deixa na vida
Outros querem mergulhar tanto nas descobertas da vida
Que se afogam, como se as lombadas fossem ondas que arrastam e colidem.
Os que se iludem vivem isolados em um pequeno aquário
Porque a tv os faz pensar que estão em um oceano.
Há quem entre no mar quando o corpo pede
Quem sinta suas ondas como se fossem abraços
E faça de seu sal tempero da vida.
Os que andam nas ruas como se fosse o calçadão
Transformando a Paulista em Leblon
Não sabem que no mar, não há desfile, estão todos nus.
E aqueles que são levados como se cada livro fosse uma grande onda
E transformam cada amor em salva vidas
Quando percebem que os beijos viraram águas vivas, saem queimados, marcados, pescados.
Há pessoas que são pérolas, há outras que formam corais, há tubarões engravatados e polvos multifacetados.
Mais atrasados que o mar, os humanos não permitem
Que seus cavalos marinhos terrestres, engravidem também
Porque até o mar não é machista.
Fecham seus olhos e felizes lembram-se do som do mar, do som das ondas.
Acordam e tristes percebem que o som do trânsito é o som da vida.
Tem quem passe pela vida de forma tão automática
Que nem o cheiro do mar aprecie
Tem quem passe pelo mar de forma tão cética
Que nem o gosto da vida desfrute
Para alguns a vida é cruzeiro, para outros uma jangada
Fazem das escolhas barcos e dos fracassos naufrágios.
Os que pulam de cabeça, os que se limitam a olhar
As que nadam e morrem na praia, as que usam a água para viajar
Tão peixes, tão humanos.
Quem faz da vida um mar
Quem faz do mar a vida.

Um comentário:

  1. Se os tubarões fossem homens - Bertold Brecht

    Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.

    Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo.

    Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

    Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões.

    Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.

    Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.

    Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.

    Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

    Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.

    As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.

    Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos

    Da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

    Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente.

    Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.

    A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos .

    Também haveria uma religião ali.

    Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.

    Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.

    Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante.

    Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

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