E mais uma vez olho pela porta da cozinha que dá para o jardim. Jardim esse quase adormecido pelo tempo... parece nem existir! Eu sempre olho! Sempre estou lá fora! E não só no jardim, também nas ruas, nas vielas escondidas, perto do mar... Tudo isso pra buscar o que aqui dentro necessita de palavra! E por quê denominar o que não se sabe nome? Em verdade só se sabe verbo: sentir! E sentir nem sempre requer a objetividade do é isso ou aquilo. Aliás, geralmente é aquilo, lá longe... Tão longe que escapa quando tentamos pegar. É o desejo que alcança, não as mãos limitadas pelo corpo. O desejo e tudo mais que pulsa! É o sangue que chega primeiro, é a gota de suor que cai antes: antes de subir pela boca (ou descer da alma?) para virar palavra. Talvez a fala seja atropelada pelo encontro com o tempo, que é real, é agora. E o agora é tão objetivo que dói! Daquele tipo de dor que te faz tropeçar. A palavra falada fica no ar misturada com a respiração ofegante de quem diz com os olhos atentos de quem devora: entrelaçada! Mas quando ela escoa pelas mãos... o que antes foi burilado lá dentro, numa busca dolorida e sem fim, não mais pertence a ninguém: torna-se atemporal, livre... O ontem e o amanhã podem eternamente e despudoradamente amar...
Palavra que sai da ponta dos dedos é alívio!
(Um dia é da caça, o outro dos ditados prontos)
ResponderExcluirPufffss! Pufffss!
Ouviu-se, então, aqueles dois surdos distintos sons cruzarem o céu. Dois homens conversavam em campo aberto, um dos quais trazia uma espingarda a mão e disse: - Esses selvagens são rápidos, ariscos!
O outro, um tanto mais calmo, disse-lhe em resposta: - Mantenha os olhos atentos. Eles estão por aí aos montes. Ou seriam elas?
- Elas? – Confundiu-se aquele com o pretexto de caçador. – Isso está cada vez mais difícil!
- Não se preocupe, meu caro! – concluiu como faria a consciência mais imparcial, encerrando assim mais um dia de caça no campo – Aquelas onomatopéias que usastes foram perfeitas!