Naquelas terras, menos esquecidas do que sua gente, à beira do rio Arapiuns, miséria e beleza travam lutas de vida e morte.
Foi ali que ele, criado na ilusão do infinito das águas, se fez garoto à margem. Pés no chão e olhar atento ao longe. Pai e barco se misturam por necessidades diferentes.
Enquanto as redes penetram o imenso espelho líquido, mais um dia. Se tudo der certo, o governo, a imprensa, os ecologistas, a polícia e os juízes estarão dormindo ou chegarão atrasados ou, simplesmente, decidirão deixá-los viver.
Na noite anterior, toda a comunidade viu pela televisão a apreensão de um pequeno barco lotado de peixes. Nem a venda da embarcação seria suficiente para pagar a pesada multa e, assim, livrar o infrator da cadeia. Naquela região, todos os homens e mulheres sabem, muito antes do IBAMA, que na desova não se pesca. Mas sabem, também, melhor do que o IBGE, que fazem parte dos que quase nada possuem.
Ele, criado sem a ilusão de dias melhores, com o olhar atento à tela, teve pena do pescador.
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