Quero regar de rosas a água que escorre pelo teu corpo.
Quero rasgar as roupas que endurecem teu ser e fazem sufocar.
Quero correr como os rios e fazer do teu corpo minha foz.
Quero brincar em laços que prendem nossa pele em uma caixa de presentes.
Quero ser teu embaraço que faz enrubescer sorrindo.
Quero derramar em teu suor, minhas súplicas por mais tempo
Tempo de estar ao seu lado, em cima, embaixo, ou onde quer que eu esteja.
Tempo de não pensar em tempo e de querer apenas estar.
A Dança - Pablo Neruda
ResponderExcluirNão te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.