Viviam na mesma casa mas ainda se mandavam cartas.
Ela passava dias colocando oxítonas nos poemas
Ele digitava o que estava sentindo e deixava o google ajudar
Ela colocava milimetricamente as cartas embaixo da marmita dele
Que sempre antes de comer, sorria com as palavras e aquele beijo dela
E isso transformava aquele arroz com ovo em caviar
Ela descobria as cartas dele dentro do pote de feijão
E depois os colhia como quem flores recolhe
sem saber que as palavras dele, eram de Drummond
Mas a João seu amor a noite iria destinar.
Viviam na mesma casa mas ainda se beijavam a noite
Como quem há um mês não se vê e não ama
Se olhavam como se toda noite fosse a primeira e a última noite
Exitavam-se, roçavam-se, amavam-se
Mas quando iam pra cama dormiam como se no outro dia os dois fossem trabalhar.
Viviam na mesma casa mas ainda se olhavam
E a cada tarde achavam-se novos defeitos
As rugas, as espinhas e os cascões que mais tarde iriam um ao outro esfregar
Riam quando ela sujava os lençois acordando naqueles dias
Construiam piadas quando ele na cama deixava a toalha molhada a tudo molhar
Se faziam de reis quando a preguiça afastava as panelas e ligava para pizza
Juravam amor como se os belos homens e as lindas mulheres pra eles nunca mais iriam olhar.
Viviam na mesma casa mas ainda se amavam
Não fingiam que a rotina e o tempo seu amor não iria mudar
Por morarem na mesma casa
Faziam dos dias uma nova oportunidade de criar, refazer e comediar
Pra demolir toda noite as paredes da casa e fazer do amor dela e dele o seu verdadeiro lar.
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