Ela queria sapatear, mas seus pés continuavam imóveis naquele salão, enorme, do tamanho da saudade que tinha da época em que dançava. Amélia era robusta, risonha e regada sempre a muita cachaça. Ela havia perdido o movimento das pernas quando, saindo do salão, abraçou veementemente um caminhão de lixo que estava a rondar suas madrugadas. Não dançou mais, mas a risada e a vontade de ir no salão prevaleceu, gostava dali. Vez em quando conseguia uma carona de um vizinho que passava por perto, outras vezes era passageira especial de um motorista de ônibus em treinamento. A verdade é que Amélia sempre dava um jeito de aparecer no salão. Muitas vezes chegava no final da quadrilha, mas entrava, nem que fosse pra bater palma e descolar um fiozinho de conversa sobre o salão, a dança, a quadrilha ou a saudade. Certo dia Amélia não apareceu, nem no outro e nem depois. Ninguém ficou muito surpreso - Já era hora de Dona Amélia descansar - falou um enquanto fechava o salão depois do baile. Descobriram, certo tempo depois, que Amélia tinha caído na rua, tentando pegar uma caixinha de música que estava tocando uma marchinha de carnaval da época em que ela ainda dançava, e com o rosto sangrando no chão, as pernas bambas e o coração acelerado ela repetia... "Ô balance, balancê, quero ficar com você... Entra na roda morena pra vê, o balancê, balancê".
Ô BALANCÊ
ResponderExcluirBraguinha-Alberto Ribeiro, 1936
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
Ô balancê balancê
Quando por mim você passa
Fingindo que não me vê
Meu coração quase se despedaça
No balancê balancê
Você foi minha cartilha
Você foi meu ABC
E por isso eu sou a maior maravilha
No balancê balancê
Eu levo a vida pensando
Pensando só em você
E o tempo passa e eu vou me acabando
No balancê balancê
Andança
ResponderExcluirDanilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós
Vim tanta areia andei
Da lua cheia eu sei
Uma saudade imensa
Vagando em verso eu vim
Vestido de cetim
Na mão direita rosas vou levar
Olha a lua mansa
A se derramar
Ao luar descansa
Meu caminhar
Cantando eu vim
Vou não faça tréguas
Sou mesmo assim
Já me fiz a guerra
Por não saber
Que esta terra encerra
Meu bem querer
E jamais termina meu caminhar
Só o amor me ensina
Onde vou chegar
Rodei de roda andei
Dança da moda eu sei
Cansei de se sozinha
Verso encantado usei
Meu namorado é rei
Nas lendas do caminho
Onde andei
No passo da estrada
Só faço andar
Tenho o meu amado a me acompanhar
Vim de longe léguas
Meu olhar de festa se fez feliz
Lembrando a seresta que um dia eu fiz
Contracanto:
Me leva amor
Amor
Me leva amor
Por onde for quero ser seu par