cansou-se de ser decidida
de não responder às melhores coisas
da vida
do seu corpo
as coisas que fogem da razão do outro
e encontram na sua pele um sentido de ser
então ela:
abriu-se em janela
em ar
foi com tudo que ouviu
dançou
voou
beijou
abriu-se em torneira
em água
foi com tudo que lhe molhava
o espírito
a saliva da boca
dançou com os poros que ficaram no ar
voou com os ruídos que o ar deixou
beijou, beijou-se no ar
foi com qualquer sinal que o seu corpo reconhecia
um reconhecimento seu
reconhecido na saliva
Se engana quem pensa que o coração é o maior orgão do corpo
ResponderExcluirE que o senhor de todas as decisões e escolhas fique acima do pescoço
Se engana quem dá aos pulmões o poder de fomentar caminhos
Ou escute só fígado para saber quando passou dos limites
Se engana quem dá aos olhos o volante da vida
E aos ouvidos toda atenção ao caminhar
Quem escuta o vento pela boca
E beija a rua só com os pés
Não sabe o quanto o estômago e seus ácidos tem a ensinar
Se engana quem se guia só pelo cheiro
Quem se sustenta apenas pelas pernas
E dos dedos o tato deprecia
Não sabe o quanto o intestino, que só é visto como porta de saída
As curvas dos caminhos tem a nos mostrar
Só não se engana quem sabe que a pele é quem sabe
o atalho, o cheiro e o tato de quem aparece
o ar, os sons e os ácidos de quem fica
o beijo, a força e a leveza de quem vai
Porque a tatuagem das coisas não é o que entra
e sim o que marca, é tudo o que toca.