E então o véu se abriu e ali estava a boca, suja e escancarada! Não era como imaginava mas - o desejo nem sempre condiz com as entranhas, pensou. E num lapso de Saramago quis que as pontuações desaparecessem e fluíssem com o pensamento solto e espantado, com línguas e cortes profundos, com todos os sabores sem (dis)descrição. O alimento confuso lhe subia as pernas e rabiscava o interno das coxas tantas vezes ignoradas, nos pequeninos e suaves pêlos em plumas ali, perdidos... - Pra que parar?, pensou o homem por trás do lacre. - Pra que mentir?, deixou escapar a mulher. Nuvens de cigarro querendo ultrapassar o teto; o cheiro de suor... Não só os próprios suores mas os dos tantos outros que por ali passaram. - Essa coisa gruda!, sentiram. E se lembrou de quando sua mãe dizia que pra lavar a roupa tem que se tirar bem o sabão, pra não grudar! - Só com muita água , minha filha! Mas era tanta água que, pequenina, tinha medo de se afogar... sempre teve. A água, como o gozo, trazia-lhe a morte à tona. - Quero morrer!, pensaram os dois sem saberem um do outro. A culpa espreitava tudo pelo vão da porta, culpa católica não entraria ali! Era de longe e com um sorriso no canto da boca que farejava a isca pega. Deleite! A gravata não saía e ficou assim, presa na garganta molhada. Era tanta coisa presa ali que mais essa não faria diferença. - Eu não falo, eu faço!, era seu lema. E de tanto fazer e muito calar estufou suas glândulas de gordura. Um perfeito foie grás, de gravata... Aproveitaram a sirene da rua pra gritar... e morreram... cada um ao seu tempo... em pé.
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