Um pequeno conto sobre seus pais

Eles trocavam cartas. Ele, em sapato de trabalhador percorria ruas. Ela, em vida de mulher abraçava palavras que não lhe cabia dizer.

E trocaram cartas entre uma e outra boda. E partilhavam filhos, afetos, palavras e sapatos. E compartilhavam vidas suadas entre uma e outra jornada.

As ruas, que não têm tempo de parar, trabalham assiduamente entre uma e outra carta, as de amor, as deles. Uma carreta e um trabalhador (que não podiam se atrasar) arrastaram os seus sapatos.

Ele ficou puído. Ela, doída.

As palavras caladas lhe cabiam agora em cartas, as de saudade.

Ela abraçava os sapatos, puídos, doída, como se no trabalhador eles ainda calçassem.


Para Alessandra Queiróz.

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