por entre
rajadas de vento
do topo de
minhas pretensões mais elevadas
e contraponho
momentos em que vôo
à margem do
choque fatal
com o
desespero de quem não tem onde se segurar
afundando
cada vez mais
nas profundezas existenciais
Eu fui
olhar o abismo
e me
encantei com sua grandeza
atraído pelo
brilho sublime da luz
dei um
passo além
e caí pra
sempre no vício do sonho
no lodo humano
caí para
sempre em seu desvão de sentido
estou
caindo sem nenhum controle
e nenhuma
oração pode me salvar
e nenhum
remédio nem uma bela mentira
pode evitar meu desastre
é preciso
saber disso, meu irmão de tombo
tropeçamos
na mesma pedra
sentimos a
vertigem do infinito
e no meio
da queda ainda me sinto feliz
de poder encontrar
um amigo
Caímos no
precipício da consciência
acordados
dos sonhos em pleno vôo
sonhamos
ilusões desfeitas pelo vento
caímos ao
chegar perto do sol
caímos na
realidade quando percebemos
que estamos
completamente só
Há muito desfez-se
o sonho
das minhas
ilusões mais queridas
o amor que
não tive deixou um buraco
para sempre
em meu peito
é a marca indelével
de um mundo cruel
gravada na
minha alma
por isso
para sempre sou carente de amor
e por isso
quero amar todo o mundo
e mal amo a
mim mesmo
Caio de uma
perfeição inatingível
mas caio
com o coração sempre transbordando
como quem
ousa mergulhar no nada
convencido
de que para viver
é preciso
zombar da morte
é preciso
cair sem medo
Cair no
samba, cair na noite
cair da
ponte, cair do horizonte , sem hora e sem norte
perdido no
universo que também cai
em queda
inexorável de uma quimera divina
para a
grandeza da poesia da vida
Morte nada
ResponderExcluirEnquanto esperava o que ia acontecer, pensava nas possibilidades daquele novo futuro, pensava no futuro pois não conseguia lembrar do passado. Tudo que tinha acontecido perdera a importância de repente, e mesmo que quisesse não podia lembrar, o passado era nebuloso diante daquele nada que a rodeava e preenchia. Nunca tinha entendido o nada, era muito diferente do que ela supunha, parecia mais com cheio do que com vazio. Talvez não fosse nada afinal, é que não sabia como chamar isso que era agora. Parecia mais com tudo porque não havia falta, mas não era palpável como sempre fora sua vida concreta.
Esperava sem ansiedade o momento da mudança, porque sabia que por dentro estava cada vez mais parecida com fora, num movimento crescente e acelerado. Não sabia o que ia acontecer, esperava sem saber o quê e era como se soubesse.
Num momento qualquer percebeu que não estava mais entre as paredes do velho apartamento, estava em lugar nenhum. Não era como imaginava o espaço, que era o que pensava que havia fora dos limites do mundo que conhecia, era claro e não tinha nenhuma estrela pra distrair. Lembrou vagamente da ansiedade que sentia quando ia pra algum lugar que não conhecia, do medo de se perder. Não tinha mais medo de nada. Os pensamentos nem pareciam mais pensamentos pois não havia esforço, as idéias desabrochavam lentamente.
Tudo que era concreto tinha desaparecido, inclusive seu corpo, não conseguia se separar daquele nada/tudo. Não conseguia entender onde terminava ela e começava o resto e essa era a melhor sensação que podia existir, sentia-se completa e nem sabia mais se era uma pessoa. E pela primeira vez saber não era importante, saber não era nada. Não sabia qual era o próximo passo. Não sabia quanto tempo ia levar. Não sabia nada e não precisava entender nada.
Percebeu que saber era uma grande bobagem, que tinha perdido muita vida por querer saber tudo com antecedência. Agora não queria saber mais nada e por isso mesmo entendia tudo, era tudo e vivia aquilo que era naquele momento.