Espanto

O menino interrompeu seu passo. A voz que ouvia não era de alguém, mas da sombra.

A sua sombra falava.

Falou de quando era jovem e pequena, de como cresceu e tornou-se sombra adulta. Contou que as sombras vivem para sempre, aparecem onde tem luz, e fazem festa onde não tem. Disse que se alimentava de poeira, e que estava cansada de tanto andar.

No entanto, a sombra falava em alemão, e o menino não entendeu nada.

Passado o espanto, respirou fundo e continuou a caminhada.

Um comentário:

  1. Als das Kind Kind was.

    Quando a criança era criança, balançava os braços.Desejava que o riacho fosse rio, que o rio fosse torrente...e essa poça, o mar.
    Quando a criança era criança, não sabia que era criança.Tudo era cheio de vida e a vida era uma só.
    Quando a criança era criança não tinha opinião...Não tinha hábitos, sentava-se de pernas cruzadas, saía correndo...Tinha um redemoinho nos cabelos e não fazia pose para fotos.
    Quando a criança era criança, era tempo destas perguntas:
    Por que eu sou eu e não você?
    Por que estou aqui e por que não lá?
    Quando começou o tempo e onde termina o espaço?
    Será que a vida sob o sol nada mais é que um sonho?
    Será que o que vejo escuto e cheiro não é apenas uma miragem do mundo anterior ao mundo?
    Será que realmente existe o Mal e pessoas malvadas?
    Como é possível?Eu, que sou eu, não exista antes de existir.E, no futuro, eu, que sou eu...Não serei mais quem eu sou.

    "O sol da manhã. Os olhos da criança. Banho na cachoeira. As primeiras gotas de chuva. O sol. O pão e o vinho. O salto. A Páscoa. As nervuras das folhas. O vento no capim. A cor das pedras. Os seixos no fundo do rio. A toalha de mesa branca ao ar livre. Sonhar com uma casa na casa. O ente querido dormindo no quarto ao lado. O domingo tranquilo. O horizonte. A luz do quarto no jardim. O voo noturno. Andar de bicicleta sem segurar. A bela desconhecida. Meu pai. Minha mãe. Minha esposa. Meu filho."

    Quando a criança era criança, detestava espinafre, ervilhas,arroz-doce e couve-flor refogada.Agora ela come de tudo e não apenas porque precisa.
    Quando a criança era criança acordou numa cama estranha...E hoje isso é frequente.
    Muitas pessoas lhe pareciam bonitas antes...Hoje é raro, só com sorte.
    Tinha uma visão clara do paraíso...Hoje consegue apenas supor.
    Não conseguia imaginar o nada...Hoje treme ao pensar.
    Quando a criança era criança, brincava com entuiasmo...Hoje só se entusiasma quando seu trabalho está envolvido.
    Quando a criança era criança, era tempo das perguntas:
    Por que eu sou eu e não você?
    Por que estou ali e não aqui?
    Quando começa o tempo e onde termina o espaço?
    Será que a vida debaixo do sol nada mais é do que um sonho?

    Quando a criança era criança, vivia de maças e pão...E ainda é assim.
    Quando a criança era criança, amoras caíam em suas mãos...E ainda é assim.
    As nozes deixavam suas línguas ásperas...E ainda o fazem.
    Ao chegar ao topo da montanha, queria outra mais alta.Em cada cidade, deseja outra cidade maior.E ainda o faz.
    Subia nas árvores para colher cerejas com grande alegria, como hoje.
    Ficava tímida diante de estranhos, e ainda fica.
    Aguardava a primeira neve...E continua aguardando.
    Quando a criança era criança, atirou uma lança de madeira contra uma árvore...A qual tremula ali ainda hoje.

    "Algo aconteceu.Ainda está acontecendo.Me prende.Foi verdade à noite e é verdade agora, neste momento.Quem foi quem?Estive dentro dela e ela em volta de mim.Quem neste mundo pode dizer que já esteve unido a outro ser?Eu estou unido.Nenhuma criança mortal foi concebida mas sim um quadro imortal compartilhado.Aprendi sobre estupefação esta noite.Ela me levou pra casa, e encontrei meu lar.Aconteceu uma vez.Aconteceu uma vez, portanto vai acontecer.
    A imagem que criamos me acompanhará até morrer.Terei vivido em seu interior.Somente a estupefação com nós dois...A estupefado filme
    ação com o homem e a mulher me tornou humano.
    Eu agora sei o que nenhum anjo sabe!"

    do filme "Asas do Desejo", de Wim Wenders.

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