Éramos praticantes das mesmas simbologias, embora tomássemos parte nessa mecânica como partes distintas e destacadas. Enquanto eu marcava a ferro as datas das minhas mais cabais frustrações, ele empunhava o ferro e dava o contorno tipografado dos números de dias e anos que em minha pele devia servir de brasão.
Andávamos juntos ao rigor da sincronia das marchas. Eu era sempre o pé que apoiava, que suportava todo o peso nas juntas comprimidas querendo partir-se. Mas era ele quem conduzia, quem revelava o caminho e estava sempre no ar. O pé que impulsionava era leve como a fumaça, mas combustível como o âmbar.
Chorávamos cada um em seu canto. E isso, não poderíamos jamais fazer juntos. Pois a tristeza de um era sempre a graça que outro deliciava. Porque o poeta que escreve a partida da amada sente o prazer dessa arte na pele de suas palavras e não a dor da partida como sente o abandonado. Mas quando este relê seu antagonista e vê refeita sua tragédia resta otimista pelo dispor que a arte lhe presta. E, então, o poeta é quem sofre, pois lhe falta a matéria para um novo poema.
Mas quando amávamos, éramos um e o mesmo indivíduo. Completos. Dois braços que abraçam como requer a postura do corpo. E a mão que escrevia algaravias, fazia apenas a medida do esforço sobre a poética de uma mera motora - a coordenada. Pois sem a angústia da alma cortada eu sou só este. Sozinho. Que fala, e fala, e fala. Mas já não diz nada.
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