Caminho por uma praia abstrata,
frequencial,
dodecafônica.
A ressaca das águas,
despeja plânctons e recalques
nos meus pés nus.
O cheiro de ancestralidade,
diante do crepom abissal,
a maresia
me derruba com a sua insolência.
As ondas lambendo o recorte da praia
vão e voltam como subconsciências.
Ao longe, nas
tortuosidades marítimas,
adivinho a figura dele,
estendendo redes,
apanhando paguros ao invés de peixes.
Somos assim,
gostamos de apanhar inutilidades aparentes.
As rochas
infestadas de cracas
como pústulas.
Nós dois
pontilhados por ausências
e misérias.
Ao longe,
no líquido amniótico da noite,
o grande Farol entrega sua substância,
barcos e píers bocejam de sono.
Ele pretende
ser
o farol da minha vida.
Antes perder me eu
em profundidades escuras com peixes de outros planetas,
fossas tectônicas,
do que ser revelado e
desnudado
por essa luz.
Mastigar cavalos - marinhos.
Caminho por uma praia abstrata,
copos sujos de sangria na areia,
vestígios da mentira de ontem.
Mas as verdades,
as verdades machucam como águas - vivas,
flutuando em nossas superfícies.
Evitamos as verdades,
eu e ele.
O contorno cetáceo
do que nunca existiu.
Eu desenhei praias nem tão abstratas,
onde caminharíamos,
se não fossemos tão separados.
A Grande Barreira de Corais
entre nossos corpos.
Agora caminho por essa praia inexistente.
Gaivotas materializadas de cartões postais,
reproduzindo a forma e
a moldura
daquilo que nunca houve.
Anêmonas
foram as flores doadas mutuamente.
Agora resta apenas
cicatrizar
pela violência
do sal.
Temos tentáculos
como polvos assustadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Neste jogo autoral não são permitidos comentários aos textos. Este formulário de comentários deve ser utilizado exclusivamente para postar textos autorais ou de autoria de terceiros, inspirados diretamente na (ou lembrados a partir da) postagem a ser comentada. E mesmo os que não estejam cadastrados como jogadores-autores podem postar textos nos comentários. Contamos com a colaboração de todos para o bom andamento do jogo.