Comprou cigarros. De início iria fumar só um (talvez outro) depois do trabalho e jogaria fora o maço ainda cheio, como fizera tantas vezes. Mas desta vez fumou vários, um a um, dia após dia, na interminável promessa de parar na manhã seguinte. Que não chegou. E ao redor da fumaça fedorenta flutuavam nebulosos pensamentos sobre a vida e uma certa nostalgia. E um buraco no estômago... humores? Blá-blé-bli-bló-blu, diria um poeta apaixonado. Não podia crer em poesia; não neste momento. Caminhava errado, porém qual o atalho correto. Angústia crescente nas lombadas. A cada cigarro aceso percebia que o buraco não era vazio, estava repleto de uma massa aterradora, absurda. Sufocante. Sentia falta, mas de quê. Uominis-humbre-falus-pensantis-amenos, blasfemara o filósofo. Não entendia nada de filosofia, psicologia ou meteorologia. E os raios esbravejando no seu cérebro vertiginoso. Não é estômago, é coração, percebeu. Aí era tarde demais e os cigarros já tinham acabado: voltara a fumar.
Ontem comprei cigarros. Desses cheios de coisinhas, ou, como diz uma amiga, cigarro de menininha. Eles são pretos e têm gosto de chiclete de menta.
ResponderExcluirSó me incomoda, porém, o gosto de tabaco que fica na boca, no segundo plano, e o cheiro. Queria cigarros que não tivessem gosto de cigarros ou, não cheirassem como cigarros. Fossem menta e só. Menta em palito que vira fumaça.
Sou uma não-fumante nata. E uma fumante por estética, para combinar com a minha pasta de plástico, meu All-Star sujo, meu guarda-chuva xadrez e a minha vontade de ser blazê.
Ou por burrice mesmo.
LAURA SALERNO