Nas costas sentia algo, que quase instintivamente identificou como uma dor, mas dores era coisa que sentia havia tanto tempo, que nem mais o incomodava; embora percebesse, quase instintivamente, que elas estavam presentes como algo que não era de sua constituição, mas que pouco a pouco se tornaram parte dele. Essa dor, por alguma razão diferente das demais que lhe acompanhavam ao longo do tempo, o fez deitar-se, quase que instintivamente. Talvez esse descanso, fora de hora, fora de rotina, fora dos movimentos quase instintivos que aprendera - ou antes, desenvolvera como parte de um tipo de adestramento que era sua vida - o fizera olhar de forma diferente para a pequena foto colada na parede, ao lado da cama. A pequena foto sempre estivera lá: ele jovem, uma jovem ao seu lado, sorrisos, água das ondas lambendo as penas de ambos, sorrisos, amor, sorrisos. Um quase lampejo de memória tentou provocar alguma emoção, alguma ligação com o passado. Quase instintivamente uma ponta de sorriso marcou o canto esquerdo dos lábios há tanto tempo endurecidos. Não fosse a pressa da morte em chegar-se a ele, pois havia ainda tantos desconhecidos a visitar, talvez ele tivesse aproveitado um derradeiro instante de humanidade. Morreu, quase que instintivamente.
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ResponderExcluirSOLUÇO
ExcluirUm susto
breque brusco
na vitrola um pulo
risco, descompassado
Bruto
o momento abrupto
muito
pouco
quase nada
Muito
quase vale um ponto
buzinada
um vulto
quase morro
um
solto
mundo
pé na estrada