Imagina, imagina

Farras e fitas e eu quero morrer assim no seu colo e tantas e tintas e você é tão bonita assim quando gira em tambores e pandeiros e eu sou tão bonito assim quando tudo gira em guizos e gozos e entra na roda morena pra ver repentes serpentinas serpenteia e me beija e me pega em brilhos e bolhas e pulhas mas você tem tudo tem graça “imagina imagina hoje à noite a gente se perder” em saltos sandálias plumas fitas feitos cores claras cintilâncias imagina imagina...


Estávamos dentro da madrugada e todas as coisas rodando meio escondidas na lama do fim. Todas as coisas ali ainda mas já meio ocultadas naquele lodo de alegria vencida. Então a chuva veio, e foi, levando. Pelos bueiros o resto das folias várias, máscaras, tintas – escorrendo – e vertiginosamente caíram os saltos, as línguas, as mulatas – sorrindo – e a batucada baixando o volume até tombar naquele vão do nosso desejo. Quando chega o fim a gente demora a entender os sinais. Vassouras arrastando as marchinhas manchadas de vômito barato e nossa fé ainda intacta sob o temporal: imagina, imagina.

O sol nascia. Nas ruas as multidões tentaram empurrá-lo de volta, com um temporário sucesso. Fecharam os olhos, tudo escureceu e luzes piscaram confusas sob as pálpebras, é carnaval ainda. Mas o sol estava nascendo, inevitável, triunfante, simples.

A manhã trouxe a quarta-feira num silêncio de sonho. A luz foi derretendo os corpos felizes, exaustos, foi queimando o riso dos foliões. O dia nasceu a fórceps nos corações ébrios da saudade de ontem. As horas passando, carros, movimento, a solidão engasgada, o relógio, o desengano. Nós todos nadando naquele lodo até levantar por força do sol, sem estarmos prontos para nada. Sem despedidas, para não doer tanto, caminhamos tortuosos para longe de nós. E um pensou: pode ser que haja um dia em que o sol seja bem-vindo outra vez. Mas foi só um de nós. Sabíamos que permaneceria em quase todos ainda um ódio das manhãs e um certo olhar de esperança até o fim de fevereiro. Em alguns, sabe-se lá até quando.

2 comentários:

  1. VAI PELA SOMBRA

    Come pelas beiradas
    procurando as janelas
    caçador de sonhos
    e multicruzilhadas

    Uma vida de porrada e ginga
    Um ano e quatro dias
    e mais nada

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