A tristeza faz parte das equações
sem solução. Já vi isso no filme Incêndios, Vinícius canta isso como religião.
Canta nos reverbs dos registros audiovisuais, instrumentos e intérpretes,
memória nada mais, onde quem percebe cria vínculos subjetivos, afetivos, do
coração ao cérebro, algo bate, algo corre. A descoberta do afeto, ouvindo quem
já morreu.
Sou mais um peregrino do acaso,
por mais que me avisem os proseadores e cronistas e cientistas de plantão,
eles como eu dedicados a vida inteira, ao que cabe a cada um. Tarefa de labuta,
de roçado, de manejo, a todos e a cada um cabe, como à mão cabe a luva, cada qual colhe seus frutos. Uma série de convergências, e conveniências, e perversidades veladas, escancaradas à luz
do sol, aos terrores da noite, às delícias do mel, néctar dos deuses. Só quem
veio foi, só quem foi viu.
Daquele objetivo
Da ponte do rio de
que me rio
Do outro lado mora
Julieta
Eu Romeu
Aquele desejo de vida
De vivermos juntos
Saiu pela tangente
E morremos
radicalmente sozinhos
Exu Xangô a cicatriz o mapa, isso
eu sempre escuto, cada momento uma etapa, e nunca precisei de papa, pois muito
antes desse aquele mestre morreu na cruz. Morrer e viver faz parte, onde os caminhos
se encontram, onde o maior ri mais alto e o menor ricocheteia em dobras,
bumerangue molecular, na encruzilhada. Eu rio alto, forte, fonte, e tu dá uma
gargalhada, cara bela ponte, o outro com quem converso e danço, a dama do xadrez que me flanqueia. Porque viver e morrer é tragicômico onde há sertão e mar,
deserto e floresta, oceano e estrada, rota dos bravos. Todo mestiço uma mescla. Só quem veio foi, só
quem foi viu.
O bisturi realiza o corte
A enxada ara a terra
O fim da vida no fio
da navalha
Os fins e os meios
Enterrar para comer
matar para enterrar
Florescer para
renascer
No vento voar
sementes
paz e terra
o amor e a guerra
Aquilo que matamos dentro de nós,
os sub indivíduos, fazem de nós assassinos, mas também capitão do mato. Pois o facão pica o mato, e enganado o índio se comoveu, puro interesse, cheiro de morte. Isso
Jorge me falou de Natário, e Peter Pan chorou quando assistiu Sociedade dos
Poetas Mortos. Carpe Diem é o lema, e saltar no precipício tarefa da águia. Sabe
o pensamento voar? A filosofia nos prepara para a queda. Porém Caio absorto, na
implosão do filme da vida, borrando flores ou merda, cagando nas calças ou
dispersando raios de luz, no frio ou calor extremo do solo que racha, do sol
que raia, do sangue que seca, do deck que inunda, o “raio que os parta!”, do
navio que afunda, da peixeira que rasga, no calor do suor o corte da navalha. Com
a água batendo na bunda é difícil distinguir filosofia, é difícil respirar
poesia. É difícil respirar...
Só quem veio foi
só quem foi viu
a ave que observa
o fogo no pavio
Viver é perigoso, já disse o
mestre Veredas da Rosa, onde a morte é estrada do rei e passagem do reino da
vida.
Soundtrack: acrilic
on canvas, Legião Urbana
para Bruno Monteiro
para Bruno Monteiro
A ciência e a ignorância
ResponderExcluirOs matemáticos são mulheres e homens muito ocupados.
Vinícius, por outro lado, fez do ócio essa sim uma religião
Os matemáticos são senhores, senhoras com dias contados
Robin Williams uma criança de farda com gancho na mão (Oh capitain, my capitain!)
A poesia, literatura, cinema ou música estão todos errados
Pois, o amor, a matemática resume a uma palavra: “não”.
Não estranha que essa tristeza infinita dos homens letrados
se desengane em face do que lhe tem como mera ocupação
Desculpe-me a lisura insípida da minha razão de dois lados
métrica e cítrica minhas e pelas rimas também peço perdão