Do aviso vítima

Sou mais uma vítima do aviso
Não me poderia ter largado, de todo, ao imprevisto?

Jamais se deve dar ouvidos
A um homem com uma profecia
Esse corredor reto e liso
Que trata com franco descaso
o quinhão que cabe à poesia

Um balde raso transbordando água fria.

Quem sabe, de fato, o ritmo que tem cada passo
senão depois do caminho desenhado ao mapa?
Ora, desenhar não é também uma etapa?
A linha, que vai da chegada à partida,
Não sou eu mesmo quem traço?
Por que, então, antecipar desvios
fazendo linhas curvas com compasso?
Se mesmo os rios
(mares perfeitos pros que estão imersos)
ignoram as pontes
como o prosador ignora os versos

Pois ter tudo pronto
quando não há nada feito
é patologia mesmo para o arquiteto

Das plantas que se tem em rabisco
cabe a ressalva de que não há pleito
nem vida em algum projeto

Vítima que sou do aviso
perdi por inteiro o gosto pelo acaso
também já não me permito o riso
as plantas que se criaram vivas
botei-as todas num vaso

É o fim
anuncia, assim, aquela profecia
Poderia transformá-lo em meio
transcrevê-lo em via
mas não se entristeceriam se, sem prumo, eu não terminasse?

Respondam-me...

Não se entristeceriam?

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