Rogaine, Viagra, Olestra

Roberto fez 30 anos semana passada. Sem muito que fazer, chamou os colegas de trabalho pra um happy-hour na sexta. Não tinha mais sua família por perto para comemorar. Seus pais moravam longe, e o seu relacionamento com eles nunca foi dos melhores. Eu sou os cabelos caídos de Roberto

Roberto saiu de casa pra fazer faculdade em São Paulo aos 18 e de cá nunca mais saiu. Não queria mais saber de voltar pro interior. Seus pais se separaram quando ele tinha 12 e ele foi criado por uma mãe que se virava em duas ou três, já naquela época, pra trazer o pão e cuidar da casa. Seu pai teve outra família e nunca mais foi o mesmo. Aliás, outras famílias, nem as conhecia ao certo.

Em seu happy-hour de aniversário, quase todos deram uma passadinha para lhe dar os parabéns. Seu chefe, seu estagiário, os colegas de mesa, o cara do Xerox, a secretária. Um a um chegaram ao mesmo bar que eles iam quando era aniversário de alguém da empresa. Tomaram umas, deram risada, falaram alto e foram embora.

“E agora?” era o que se perguntava. “Pô, trinta anos!” Tinha um diploma universitário reconhecido, um apartamentozinho bem equipado com as melhores soluções versáteis para a vida moderna: uma rede com 500 canais pra ele ficar zapeando a TV como companhia nos finais de semana em que não saía; um quite escritório com um computador top de linha e uma biblioteca de livros que reuniam desde os clássicos de Machado de Assis e Eça de Queirós, até os da pós-graduação que ele já terminara; um conjunto de louças com pequenas imperfeições - provas de que foi feito por trabalhadores manuais não se sabe de onde... Mas tudo isso não respondia à sua pergunta.

Não tinha namorada. Nunca realmente conseguiu se envolver emocionalmente com alguma mulher. Não de propósito; ele sempre acabava terminando seus rolos quando percebia que estava chegando a ficar algo sério. Tinha medo do compromisso, tinha pavor em pensar em ter que dar satisfação a alguém.

Isso agora talvez fosse um problema. Depois de todos irem embora, não tinha com quem comemorar seus 30 verões completos. Não tinha com quem perder o sono na cama, ou com quem sonhar. E isso talvez estivesse errado, ou não, não sei. Eu sou apenas o coração partido de Roberto, nada mais.

Mas pelo menos, como era seu aniversário, conseguiu carona com o seu chefe. Roberto sempre tinha que sair mais cedo dessas reuniões, pra não perder o metrô, que fechava meia noite, pois ainda não tinha conseguido juntar dinheiro pra comprar um carro. E assim, vivia se torturando entre curtir uma balada num feriado prolongado, comer fora durante a semana, ou economizar dinheiro pro seu futuro automóvel. Tinha que ser zero, e tinha que ser aquele todo completo e equipado! Rádio, GPS, e televisão embutidos, freios abs, direção hidráulica, quatro portas, teto solar e banco de couro... Afinal de contas, era o que ele merecia. E, por isso, ainda demoraria mais um pouco pra ele abandonar o bilhete único.

Quando chegou em casa, passou mau e morreu. Assim mesmo, meio que sem mais, nem menos. Quando a ambulância chegou, foi detectada uma pequena intoxicação alimentar. Insuficiente para matar um rapaz novo, de apenas 30 anos. Mas forte o suficiente pra um cara que desde a faculdade se entope de fast-foods, comidas enlatadas e industrializadas que a correria do dia a dia e a rotina longe dos pais o impuseram, além de fumar pra tentar controlar o seu stress. Eu sou o colesterol de Roberto.

Quando menino, ele cresceu querendo ser médico, ajudar as pessoas, fazer o bem, mas o vestibular era muito difícil e ele não conseguiria passar nem mais um ano fazendo cursinho, não aguentava mais.

Quando jovem, queria salvar o mundo! Ser um ativista político muito influente e acabar com a fome, com as guerras, promover a paz mundial! Acabar com as injustiças!

Um pouco mais velho, pensava em tentar escrever um livro assim que a faculdade acabasse e ele tivesse um pouco mais de tempo. Um livro acadêmico, talvez, ou quem sabe, uma simples autobiografia...

Depois da universidade, só pensava em poder, quem sabe, cultivar uma hortinha numa casa de campo, assim que ele tivesse tempo, durante a sua aposentadoria.  Plantar árvores, acompanhar seu crescimento, colher alfaces, repolhos, tomates, as frutas da época...

Trabalhou, então, em uma empresa publicitária respeitada, que promove tudo aquilo que ele trabalhou para comprar. Sem dúvida, tivera uma vida muito melhor que a maioria dos brasileiros, nunca passara fome, nunca passara frio, tivera um teto muito bem mobiliado e a oportunidade de frequentar uma faculdade.

O indivíduo mais perigoso na sociedade é aquele que acha que tem tudo a perder, pois nunca percebe realmente que desde que nasceu está morrendo e, então, deixa de fazer aquilo que gostaria. Eu sou o corpo inerte de Roberto, sendo devorado pelos vermes.

Um comentário:

  1. Fight club

    Swimming pool delight
    High-class offices
    Straight for the fight!

    But
    A direct punch
    In the face
    Causes headaches

    A broken heart
    By a deadly sword
    Kick‘ass bad!

    A lover boxer
    dangerous
    Machine gun

    Fog, bombs, war
    and BOOM!

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