Assaltantes Anônimos


"A mais perigosa criação no mundo, em qualquer 
sociedade, é um homem sem nada a perder."   
Malcolm X        

Isso é um assalto! Anunciou confiante. Passa tudo! Vamo, vamo, vamo logo senão leva chumbo agora! A mão firme. O rosto escondido. O corpo protegido pelas vestes. O corpo fechado pelo terreiro. Tá olhano o quê? Qué morre cara, cê tá quereno morre? As chave! A bolsa da madame também! Passa, passa, passa logo cara. Chico, pega tudo aqui, vamo logo, corre qui os home tá chegano. Apressadamente saem da lanchonete dos Jardins. Droga! Essa moto falha quando mais precisa! Duas, três, quatro fortes pisadas no pedal, ela arranca, Chico na garupa. O cachorro louco [1] rasga a cidade.

Na subida fica mais difícil, descem, empurram a moto. Os cabelos ao vento, o riso de satisfação escancarado nas faces. “Oi" daqui, “tudo bem de lá, vão adentrando a comunidade, como penitentes em direção aos céus. Tem moral no lugar e com a ação de hoje, ela cresce.
Mãe, tó, uma bolsa novinha. E já vem com grana... olha a moral, compra umas unha daquelas que cê vê na Ana Maria. Cê não queria? Tá feito. Dirige-se ao irmão caçula. Maicon tó, compra uns doces, danone e daquele pão gostoso. Vamo Chico, agora é nóis.
Entram no Shopping. Lugar de respeito, tudo limpo, bonito e o banheiro perfumado! Braços a sacolejar no balanço das ancas adentram os corredores, passam uma, duas lojas. A nossa é mais ali, indica confiante. Skate, prancha de surfe, tênis, bermudas e camisetas maneiras. E aí Fernando, muita mercadoria hoje.....tamo afim de compra. Aproveita. Aêêê....vamos lá o que querem para hoje? Tem coisa nova na área, deixei umas separadas aqui, como gostam, direto da fábrica.
No lixo a roupa velha, no corpo a roupa novinha em folha. Dão um trato no visual, conferem no espelho grande do banheiro, dá pra vê o corpo inteiro. Bonito, tá responsa agora. As minas vão se rasga. Cerveja, diversão e até uma graninha pras viagem[2].
Na semana seguinte, o sol cega o olhar. Que ressaca! Chega de folga, a grana acabo. Vamo trabalha. Acorda Deputado, dia de trabalha! Vamo apavora, apavora!
A justiça é cega, surda e muda”, arremata com voz solene o comentarista político na TV. Chico, levanta ainda sonolento, olha a TV e sorri. Concorda com o cara. Lava o rosto na pia da cozinha. To pronto, vamo nessa.

[1] Gíria: motoqueiro veloz
[2] Experiência alucinógena provocada pela ingestão de entorpecentes                                                                               
              

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