Preenchi toda a face num tom
Sobre as bochechas abri um grande riso
Abraçando também a boca
Do olho desci uma lágrima prateada
Olhar a vida sob o prisma
Da alegria...
Na modernidade...
Só se for com cara e boca
De palhaço
Ele, o nariz vermelho!
Ah, aquele! Deixo para você
Que insistentemente pede
Meu riso infantil
Amorfo
TENDA DE CÍRCULO
ResponderExcluirPairei criança,
Num momento de vento.
O circo me alegrava,
Tão rústico, tão rico, tão rito,
Mas o palhaço me assustava,
E o leão!
Ai cresci e vi que o circo era vida,
Política pão e circo,
Palhaçada vida e morte
Diversão carnificina.
E voltei a ser criança,
Ainda que irônica, ainda que cínica,
Ainda que velha e salpicada pelo tempo.
Pulei ao partir.
Para Oscar Niemeyer, Dave Brubeck e Décio Pignatari
Infância
ExcluirSonhos
enormes como cedros
que é preciso
trazer de longe
aos ombros
para achar
no inverno da memória
este rumor
de lume:
o teu perfume,
lenha
da melancolia.
Carlos de Oliveira, in 'Cantata'
CAIS
ExcluirPara quem quer se soltar, invento cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz, invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir, eu quero mais
Tenho um caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar
Milton Nascimento, na voz de Elis
http://www.youtube.com/watch?v=aHoBvW16q78
Poema em linha reta
ResponderExcluirFernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[538]
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
"Eu quero explicar a vocês
ResponderExcluirO que é ser um palhaço
O que é ser o que eu sou
E fazer isso o que eu faço
Ser palhaço é saber distribuir
Alegria e bom humor
E com esforço contentar
O público espectador
Muita gente diz Palhaço
Quando quer xingar alguém
E esse nome pronunciam
Com escárnio e desdém
E ao ouvir esta palavra
Outros sentem até pavor
Como se palhaço fosse
Criatura inferior
Mas de uma coisa fiquem certos
Para ser um bom palhaço
É preciso alma forte
E também nervos de aço
E além de tudo é preciso
ter um grande coração
para sentir isso o que eu sinto
grande amor à profissão
O Palhaço também tem
Suas noites de vigília
Pois lá na sua barraca
Ele tem a sua família
Palhaço, meus amigos,
Não é nenhum repelente
Palhaço não é bicho
Palhaço também é gente
Falo isso em meu nome
E em nome de outros palhaços
Que muitas vezes trabalham
Com a alma em pedaços
Ser palhaço
É saber disfarçar a própria dor
É saber sempre esconder
Que também é sofredor
Porque se o palhaço está sofrendo
Ninguém deve perceber
Pois o Palhaço nem tem
O direito de sofrer"
Poema de título e autoria desconhecidos, recitado pelo Palhaço Picolino e transcrito por mim.
Palhaço - Egberto Gismonti
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=_A9_FufVnKU