Palhaçada Moderna

Pintei meu rosto de branco
Preenchi toda a face num tom
Sobre as bochechas abri um grande riso
Abraçando também a boca
Do olho desci uma lágrima prateada

Olhar a vida sob o prisma
Da alegria...
Na modernidade...
Só se for com cara e boca
De palhaço

E o nariz? Aquele usado em tantas passeatas?
Ele, o nariz vermelho!
Ah, aquele! Deixo para você
Que insistentemente pede
Meu riso infantil
Amorfo

6 comentários:

  1. TENDA DE CÍRCULO

    Pairei criança,
    Num momento de vento.

    O circo me alegrava,
    Tão rústico, tão rico, tão rito,
    Mas o palhaço me assustava,
    E o leão!

    Ai cresci e vi que o circo era vida,
    Política pão e circo,
    Palhaçada vida e morte
    Diversão carnificina.

    E voltei a ser criança,
    Ainda que irônica, ainda que cínica,
    Ainda que velha e salpicada pelo tempo.

    Pulei ao partir.

    Para Oscar Niemeyer, Dave Brubeck e Décio Pignatari

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    1. Infância

      Sonhos
      enormes como cedros
      que é preciso
      trazer de longe
      aos ombros
      para achar
      no inverno da memória
      este rumor
      de lume:
      o teu perfume,
      lenha
      da melancolia.

      Carlos de Oliveira, in 'Cantata'

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    2. CAIS

      Para quem quer se soltar, invento cais
      Invento mais que a solidão me dá
      Invento lua nova a clarear
      Invento amor e sei a dor de me lançar

      Eu queria ser feliz, invento o mar
      Invento em mim o sonhador

      Para quem quer me seguir, eu quero mais
      Tenho um caminho do que sempre quis
      E um saveiro pronto pra partir

      Invento o cais
      E sei a vez de me lançar

      Milton Nascimento, na voz de Elis

      http://www.youtube.com/watch?v=aHoBvW16q78

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  2. Poema em linha reta

    Fernando Pessoa
    (Álvaro de Campos)

    [538]

    Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
    Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


    E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
    Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
    Indesculpavelmente sujo,
    Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
    Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
    Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
    Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
    Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
    Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
    Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
    Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
    Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
    Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


    Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
    Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
    Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
    Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
    Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
    Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
    Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
    Ó príncipes, meus irmãos,


    Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?


    Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


    Poderão as mulheres não os terem amado,
    Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
    E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
    Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
    Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
    Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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  3. "Eu quero explicar a vocês
    O que é ser um palhaço
    O que é ser o que eu sou
    E fazer isso o que eu faço

    Ser palhaço é saber distribuir
    Alegria e bom humor
    E com esforço contentar
    O público espectador

    Muita gente diz “Palhaço”
    Quando quer xingar alguém
    E esse nome pronunciam
    Com escárnio e desdém

    E ao ouvir esta palavra
    Outros sentem até pavor
    Como se palhaço fosse
    Criatura inferior

    Mas de uma coisa fiquem certos
    Para ser um bom palhaço
    É preciso alma forte
    E também nervos de aço

    E além de tudo é preciso
    ter um grande coração
    para sentir isso o que eu sinto
    grande amor à profissão

    O Palhaço também tem
    Suas noites de vigília
    Pois lá na sua barraca
    Ele tem a sua família

    Palhaço, meus amigos,
    Não é nenhum repelente
    Palhaço não é bicho
    Palhaço também é gente

    Falo isso em meu nome
    E em nome de outros palhaços
    Que muitas vezes trabalham
    Com a alma em pedaços

    Ser palhaço
    É saber disfarçar a própria dor
    É saber sempre esconder
    Que também é sofredor

    Porque se o palhaço está sofrendo
    Ninguém deve perceber
    Pois o Palhaço nem tem
    O direito de sofrer"

    Poema de título e autoria desconhecidos, recitado pelo Palhaço Picolino e transcrito por mim.

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  4. Palhaço - Egberto Gismonti

    http://www.youtube.com/watch?v=_A9_FufVnKU

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