Cantos de Fera

'Ela é uma mina versátil
O seu mal é ser muito volúvel” (Fogo-fátuo, Chacal)

De um canto ela surgia assim, sem tirar nem por, abrilhantando o ambiente
Esmeralda adentra o recinto qual vulcão em erupção abrupta e feroz
Pernas num molejo ancestral avançavam pela passarela sinuosa
Em movimentos cheios de cadência, sensualidade e atitude
A noite só estava começando e ela estava pronta para impulsionar vontades
 
A cinta liga preta presa aos quadris sorridentes ondulava nas curvas sinuosas
Anfitriã, era exibida abertamente por debaixo da mini saia prateada justa
Os elásticos esticados sobre a coxa esguia convidavam ao luxo e prazer
A cada presilha aberta no acabamento rendado da meia, murmúrios impuros
Cantos avessos pelas mesas, redondas luas espiavam perplexas, caladas
 
Nos cabelos loiros uma flor vermelha liberava aroma almiscarado no ar
Embriaguez nos lábios negros ornados de explosões estelares misteriosas
No canto do olho esquerdo uma lágrima suspensa gemia... cristalina
Enquanto a tez pálida invadia as faces famintas do recinto casual e abafado
Mãos a buscar alento nos vãos do viver coletivo e insano do ser
 
O salto agulha negro avançava e esmagava os sonhos expostos na vitrine
Abrindo caminho, deixando rastros de fogo na queima veloz e efêmera
Fumaças movidas por braços embalados ao som do rock’n roll hipnotizavam
Luvas carmim... faíscas raivosas arremessadas a esmo pelo recinto escuro
Deslumbre, fetiche a vagar no palco entrecortado do ser moça criança

Longas unhas escorregavam insinuantes da boca para os fartos seios em riste
Servidos quais taças de espumante no sutiã dourado ornado qual seu nome
Banhados por miríades acanhadas que caíam diretamente do teto escarlate
Para saldar a beleza da fera a invadir a mata hostil... sorrateiramente
Guerra que avança numa constante e insana marcha do ataque a mão armada
 
Entre baratas, lixos, restos e mortos... derramava sonoras gargalhadas
                                   ...a cada canto filado....
Dançava, rodopiava, curvava, exibia o rabo e rastejava incansavelmente
Traduzindo a volúpia da roupa cara e suntuosa no seu interior íntegro
Felino, sombrio, revolto e impiedoso com seus algozes surreais que gemiam

 

 

 

 

 

 

 

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