Na nau

Lá vem. E outra vez. Foi onda que fez o nível baixar subir baixar do mar. Nessa embarcação, o peso do cobre não é perigo: não existe. Os temperos humildes que recobrem nosso casco perfumam os espaços nas dispensas, nos bolsos, no vento. E tem mais gente a estibordo, que peso trazem elas? Trazem promessas, juventudes, solidões.

Içar velas, subir âncora. As fomes movem nossos braços e levam mãos frias e perfumadas para o trabalho de todo dia todo-o-dia. Acorda a ideia, recheia o fôlego. Prepara o pão para guardar, estende a roupa, divide o pouco. Enquanto isso, a brisa felina invade os cômodos, sinuosa, e nos lembra de brilharmos juntos, porque o sol está na popa. Então traz frutas.

E mais uma vez. Sentiu? Mas passou. E passará sempre. Não permanece tão alto nem tão baixo. É onda e se move. 

Olha pra frente: nem sinal de chuva. Já é fim de tarde e os pássaros pousam no mastro para repousar. Será que a gente consegue só deitar e cantar hoje? Seja lá o que for minha pele e a sua e a sua tecem o mesmo pano: sempre que voltar, aqui é um bom lugar. Vem.

Prepara: lá vai de novo.

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